- Se eu me expresso estou errada, se eu me silencio continuo errada! - eu disse sem olhar pra ele. Fazia horas que meu olhar estava penetrado na parede tentando encontrar alguma fagulha de luz.
- Moça, você é intensa demais, mas consciente, precisou amadurecer cedo demais, não se cobre tanto. Um dia alguém vai entender seu silêncio, e aí você vai entender que nunca foi você. Eles querem fazer tempestade em copo d'água, mas a moça já é um tsunami, eu sei que está difícil segurar as ondas, mas respira, é só o início de agosto. - Ele declarou com um sorriso.
- Eu queria me ver como vocês me veem...
- Fácil... vamos lá, feche os olhos... respira... expira... agora concentre-se. Imagine você, em vestes longas em tons escuros, deserto, e você sendo a rosa mais bela do deserto. Imaginou? É como vemos sua força, que apesar do ambiente árido, continua imponente, bela, pura. Agora... imagine-se na beira-mar, você toca o mar com o pé, entrando nele devagar, e as ondas começam se manifestar, o mar fica revolto, mas não em negação à sua presença, e sim uma reverência à ti, é como vemos teu poder. Agora... imagine-se correndo num campo verde, você livre, feliz, o vento bagunçando seu cabelo e você se divertindo, é sua essência. Por fim, imagine-se numa roda de fogo, tudo queima, menos você. Pois és a mais forte. Tu tens a maturidade que os outros não tem. Por isso vai sentir muitas vezes que puxamos mais de você que dos outros. Mas é porque sabemos o seu potencial, e o mundo precisa de pessoas como você! - V concluiu.
- Nossa... nunca me vi assim...
- Porque o cansaço do dia a dia vem te consumindo! Mas ainda estamos aqui, mesmo nos teus piores dias!
- Muito obrigada, V. Eu precisava ouvir isso!
- Não há de que moça, agora... apaga essa vela vermelha e vai dormir, amanhã sua menina estuda e você trabalha! Nos vemos na próxima lua! - Ele disse e saiu.
Ele veio só para me recarregar, e eu nem sei como agradecer por tanto, sigo meu caminho fazendo o que dá certo, e eles vem comigo mesmo no deserto!

